< Crónicas de Sampa: novembro 2005

terça-feira, novembro 29, 2005

Um Rio diferente

Cidade Maravilhosa. Tão perto de São Paulo, e apenas teve honras de visita durante um fim-de-semana inteiro. Antes de ir embora, era obrigatório voltar. Não só porque é impossível ficar indiferente às paisagens de Copacabana ou Ipanema, à animação de rua, à alegria das pessoas, mas também porque faltava ainda muito para ver. Apenas tinha feito o roteiro turístico: Cristo Rei, Pão de Açúcar, praias.

No entanto, as expectativas eram baixas, muito por culpa da meteorologia. Previsão de mau tempo para todo o período de estadia. Quem conhece o Rio de Janeiro percebe porquê que a cidade fica despida de vida sem a presença do sol. Sábado, a praia de Copacabana estava vazia. A alegria carioca estava ausente. Eventualmente escondida para poder reaparecer ao mínimo raio de luz. Como esta era a expectativa inicial, havia o plano B. Um roteiro cultural.

E aí pude encontrar o Rio que não é Rio. A cidade foi construída a partir da baía de Guanabara (que os portugueses pensavam ser um rio, daí a origem do nome da cidade, descoberta num mês de Janeiro). Longe das zonas badaladas do sul da cidade, inacessíveis atrás dos morros durante muito tempo. E aí encontra-se um local mais parecido com São Paulo: prédios altos (que conseguem esconder os montes), escritórios, avenidas cheias de trânsito durante a semana, pessoas vestidas com fato e gravata. Um destino obrigatório para quem gosta de um lugar requintado para tomar um café é a Confeitaria Colombo: a fazer lembrar o Majestic do Porto ou o Café Tortoni de Buenos Aires.

Rio é também sinónimo de Carnaval, samba. Houve a possibilidade de assistir ao ensaio de uma escola de samba da Mangueira, uma das mais famosas da cidade. Local: zona norte, das mais perigosas. E que dizer, o pavilhão fica na entrada da favela, sem tirar nem pôr. O espectáculo é bonito, se bem que fiquei muito surpreendido com a assistência, repleta de turistas. Por alguma razão a entrada custava 20 reais, preço proibitivo para o povão. No entanto, não passa de mais uma forma como outra qualquer de ganhar dinheiro. E a segurança é garantida: sem ela, o turista não volta mais, nem o seu dinheiro.

E no domingo de manhã, depois de terminar a noite, o sol mostrou a sua misericórdia e fez o favor de nos manter acordados durante mais tempo. Para ficar na praia, para ter o primeiro (sim, não estou a mentir!) verdadeiro dia de praia desde que cheguei ao Brasil, já lá vão mais de 8 meses. Para terminar, jantar na Garota de Ipanema, local mítico onde foi escrita a letra da música com o mesmo nome.

E nada como encontrar 14 graus de temperatura à chegada a São Paulo...

sexta-feira, novembro 25, 2005

Encore une fois - Destino do final de semana, litoral. Previsão do estado do tempo: pancadas de chuva.

quarta-feira, novembro 23, 2005

Parque Estadual de Intervales

Depois de duas viagens mais longas, nada como algo mais leve e que prova que se pode fazer turismo de qualidade no Estado de São Paulo sem gastar muito dinheiro. Mais natureza e muita aventura, num parque estadual situado a 270 quilómetros da capital.

De nome Intervales, o parque abriga imensas espécies, assim como uma fatia importante do que sobrou da Mata Atlântica (cerca de 8% da área que existia na altura dos descobrimentos). Trata-se de um recanto isolado, para quem quer descansar e desligar completamente do resto do mundo. Não há televisões, Internet, telefones públicos e muito menos telemóvel. Quando isto acontece, é muito fácil estar a dormir por volta das 22h30.

A aventura esteve na ordem do dia. Trilhas difíceis com passagens por cachoeiras, cavernas e floresta. No entanto, o esforço é sempre recompensado por alguma maravilha da natureza. As cachoeiras do Arcão, Luminosa e Mirante, assim como as Cavernas de Paiva e Colorida vão merecer um espaço na minha memória durante algum tempo. Apreciem as fotografias!





Gosto - de pensar que posso entrar num shopping nesta altura do ano, sem ter de ouvir músicas de Natal.

segunda-feira, novembro 21, 2005

Diminutivos - gosto muito de brincar com as diferenças entre os vários "portugueses" falados mundo fora. Uma das mais engraçadas é a utilização do termo devagarzinho como diminutivo de devagar, aqui no Brasil. No entanto, apercebi-me de que os nossos amigos dizem colherinha e não colherzinha.

Afinal quem é que está certo?

sábado, novembro 19, 2005

Mato Grosso do Sul

Foi a viagem mais demorada. A minha previsão revelou um erro de estimação razoável, ao todo foram 18h30 para chegar ao destino, isto sem contar com a hora de táxi que foi necessária para chegar ao terminal da Barra Funda em São Paulo. Para acreditarem como é longe, posso dizer que entrei noutro fuso horário. Uma hora a menos do que o horário de Brasília.

O cansaço apodera-se do corpo com extrema facilidade, mas por outro lado sabe-se que o tempo é muito curto para poder aproveitar o destino escolhido para passar o último feriadão do Contacto. Bonito fica situado no estado do Mato Grosso do Sul (que existe apenas desde 1979), a cerca de 300 quilómetros da sua capital, Campo Grande. É um local de moda nos roteiros de eco-turismo no Brasil, e tem de facto condições para o ser: natureza preservada, infra-estruturas de qualidade e um encanto que só quem lá está consegue perceber. Mas nem tudo é perfeito: a presença de um guia é obrigatória em qualquer passeio (o que faz aumentar os preços), as atracções não ficam muito próximas da cidade (é sempre necessário transporte para chegar lá) e é muito confuso conseguir vagas nos passeios que se pretendem, está-se sempre sujeito a desmarcações e remarcações porque as operadoras turísticas querem optimizar o transporte.

Quanto à aventura propriamente dita, começou com uma descida de rafting, só para despertar da longa viagem. Ocupou bem a tarde de sábado. A viagem mais interessante foi a do dia seguinte, um aperitivo do Pantanal na Fazenda San Francisco. Os 150 quilómetros que separavam a cidade da fazenda (sendo que metade em estrada de terra) obrigaram o grupo a despertar violentamente às 5h da manhã, mas valeu bem a pena. Um passeio dentro da fazenda é como ver um documentário ao ar livre, observando o comportamento das várias espécies. Pude observar imensas aves que se abastecem nas ricas águas dos pântanos (tucanos, tuiuius e garsas são as mais bonitas), e ainda jacarés, piranhas e emas. E com a ajuda do guia, fica-se a saber qual a dieta de cada um destes bichos.

No dia seguinte, três excursões. A primeira foi de mergulho no Rio da Prata (junto à nascente de um dos seus afluentes, água transparente, cristalina e bem fria). Seguiram-se o buraco das Araras, uma formação da natureza (em tempos serviu de depósito de lixos variados) espectacular onde vivem 30 casais de araras. Para terminar e refrescar novamente, um passeio de bóia-cross no Rio Formoso, apenas para pura diversão.

E assim se acabou a aventura, às 11h30 de terça-feira, depois de um passeio de bicicleta e uns mergulhos na piscina do albergue. Era tempo de voltar para São Paulo, para estar a horas no trabalho no dia seguinte.

Fotos






quinta-feira, novembro 17, 2005

Sem tempo para respirar - A falta de actualizações não se deve à ausência de matéria, mas sim à escassez de tempo. Bonito e Pantanal vão merecer atenção especial, mas apenas houve tempo para trocar de mala e partir para nova viagem, desta vez para conhecer as fábricas da Logoplaste.

Não tenho bem a certeza, mas acho que percorri cerca de 2000 quilómetros nas últimas 30 horas.

Vou dormir. Amanhã esperam-me mais 500 até chegar a São Paulo.

sexta-feira, novembro 11, 2005

Bonito, bonito - é fazer uma viagem de 17 horas (previsão optimista) para chegar a Bonito.

Salto do Itiquira


Para além da visita a Brasília, o fim-de-semana teve direito a outro prémio. Já no estado de Goiás, em pleno coração do território brasileiro, ficam várias atracções naturais fabulosas, entre as quais se destaca a Chapada dos Veadeiros. Esta última era praticamente inacessível para um dia (230 km de viagem só de ida, pouco tempo para visitar um parque que merece bem mais do que duas horas).

Arranjou-se algo intermédio. E para isso existem guias interessantes, como o Lonely Planet, que dão dicas extremamente interessantes sobre o que fazer à volta de Brasília. A opção escolhida foi Salto do Itiquira: queda de água com uma altura de 175 metros situada a 110 km da capital federal. Com carro alugado, chega-se lá em cerca de hora e meia: no entanto é curioso que se anda bem mais depressa em pista só com uma faixa do que em auto-estrada, isto devido à presença dos radares nesta última. E logo um aviso à saída da cidade: Fortaleza fica a 2273 quilómetros.

A estrada que leva até à cachoeira termina naquele lugar. Não há mais nada depois disso. A queda é majestosa, e forma piscinas naturais ao longo do vale. Serviu para banhos, para apanhar sol (coisa que continua a não haver em São Paulo) e sentir que estou de facto no Brasil, em paisagens paradisíacas (mesmo estando a mais de 1000 km do litoral).

Por pouco esta aventura custava ficar mais um dia em Brasília. Felizmente, o avião esperou mais um pouco. E assim se passou mais um fim-de-semana!

quinta-feira, novembro 10, 2005

Brasília - arquitectura

Brasília é sinónimo de arte moderna. Todos os edifícios foram projectados para dar à cidade um ar futurístico. Uma grande curiosidade é que a maior parte das construções são subterrâneas, em parte para fugir ao intenso calor que se faz sentir durante a maior parte do ano.

A lógica global é que os edifícios mais importantes se situam perto do centro, onde se cruzam os Eixos. Quanto mais afastado dos eixos, menor altura terão os prédios. O Congresso Nacional, localizado no “cockpit” do avião, é imponente. É composto por três edifícios: um em forma de H, outro com a cúpula virada para baixo e outro com a cúpula virada para cima. Infelizmente, não foi possível efectuar uma visita devido à presença do presidente norte-americano na capital federal. O Palácio do Itamaraty, sede do Ministério dos Negócios Estrangeiros, é sumptuoso pela sua decoração interior, cheia de simbolismos de guerra e paz, esculturas de valor incalculável e jardins com vegetação amazónica. Possui referências a todos os principais momentos da História do Brasil, desde a época dos descobrimentos até à independência. No entanto, o mais belo de todos é a Catedral Metropolitana. À primeira vista, ninguém diz que é uma Catedral: o edifício é totalmente moderno, para além de ser em forma eclíptica, o que não é comum em igrejas. Por dentro, a Catedral consegue aproveitar o máximo de luz solar: quando a visitei estava prestes a começar uma trovoada, e a luminosidade conseguia ser maior dentro do que fora do edifício.

Os mais feios de todos, os ministérios. Fazem parte do aparelho de Estado, e foram construídos com uma inspiração socialista, todos iguais e sem graça nenhuma. Aliás, como o monstro do Estado não pára de crescer, foram construídos anexos para dar “suporte” aos ministérios (em bom português chama-se criação de “tachos”). Estes anexos têm passagens inferiores ou superiores sobre as vias, nada de contacto com a população.

As quadras são todas iguais. Isto faz com que seja fácil perder-se no meio delas mesmo conhecendo o seu sistema de numeração. Com o objectivo de tornar a cidade simples e funcional, os seus criadores acabaram por transformar a cidade em algo que não se parece nada com Brasil: não há confusão, os problemas de trânsito não existem, os carros param nas passadeiras, a violência urbana de São Paulo ou Rio de Janeiro é infinitamente superior à de Brasília.

Concluíndo: interessante para conhecer, mas até os criadores não ficaram lá a morar. Preferiram as paisagens cariocas.

O Congresso Nacional e o Senado


Palácio do Itamaraty, sede do Ministério dos Negócios Estrangeiros

Os ministérios soviéticos


A Catedral metropolitana, simplesmente fabulosa!

Brasília - um pouco de História

Devo confessar que este foi o destino que mais me surpreendeu em toda a minha estadia no Brasil. Nunca foi uma cidade que me fascinou, e ao longo da maior parte do estágio nunca considerei sequer a hipótese de visitar a capital do Brasil.

Para a grande maioria dos brasileiros, Brasília não tem graça. É algo feito por políticos para os políticos, um símbolo da corrupção e reflecte a realidade da sociedade, um “apartheid” entre ricos e pobres. No entanto, não deixa de ser de extremo interesse visitar um lugar que se tornou a capital do quarto maior país do mundo, sendo que há 50 anos não existia rigorosamente nada no local, a não ser paisagens torradas pelo clima hostil dos trópicos.

Juscelino Kubitschek foi o grande mentor deste projecto. Quando alcançou o poder durante a década de 50, prometeu aos brasileiros “50 anos de progresso em 5”. Como é óbvio, Brasília foi uma das bandeiras deste lema, e que serviu os desejos do próprio presidente em levar o desenvolvimento para o interior do país, e não ser um fenómeno localizado apenas no sul e sudeste. No dia 21 de Abril de 1960, feriado de Tiradentes, foi inaugurada a nova capital federal, que se ergueu do nada em cerca de quatro anos.

O desenho da cidade foi elaborado por Lúcio Costa, sendo que os edifícios foram obra na sua grande maioria de Oscar Niemayer. O desenho original do “Plano Piloto” aproxima-se muito da realidade, isto apesar da cidade ter sido prevista para ter 500 mil habitantes e ter neste momento mais de 2 milhões. O “Plano Piloto” previa uma cidade com a forma de um avião, com o Eixo Monumental a representar o corpo do avião e o Eixo Rodoviário Norte e Sul a percorrer as asas. À frente do avião, os três poderes: judicial (Supremo), executivo (Palácio do Planalto) e legislativo (Congresso). Imediatamente a seguir, por ordem de importância, os ministérios dos Negócios Estrangeiros e Justiça, seguido dos restantes (para sinalizar a importância destes dois, a sua construção difere dos demais).

A grande falha do plano urbanístico da cidade tem a ver com os transportes públicos. O metro começou a ser construído posteriormente, e não há a mínima dúvida de que a cidade foi feita para os automóveis. Depois, algum tempo e paciência são suficientes para entender o funcionamento do sistema viário da cidade – em que a velocidade máxima permitida é de 60 km/h, mesmo nos casos onde existem seis faixas de rodagem em cada sentido.

O Eixo Monumental divide a cidade em duas partes: Asa Norte de um lado e Asa Sul do outro. Cada asa é atravessada pelo eixo Rodoviário Sul ou Norte, de acordo com a asa em que nos encontramos. As avenidas paralelas ao eixo são denominadas por W se estiverem a oeste (W1, W2, W3 à medida que se afastam da via) e de L se estiverem a leste (L, L1, L2, etc.). Depois, a cidade não tem nomes de ruas. Os bairros são superquadras, cujo número indica qual é a distância a que se encontra quer do Eixo Monumental quer do eixo rodoviário. O primeiro dígito indica a distância a que a quadra se encontra do Eixo Monumental; o último dígito indica se fica a leste ou a oeste do Eixo Rodoviário Norte ou Sul. Se o número for par, fica a leste; se for ímpar, fica a oeste. Por exemplo, a quadra 404 N situa-se na asa Norte, a quatro quadras do Eixo Monumental, e a duas quadras do eixo Rodoviário Norte.

No mínimo, é original. Nunca ninguém fez algo de parecido no mundo, pelo menos que eu saiba. No próximo post vou escrever sobre alguns dos edifícios mais emblemáticos da cidade.

O eixo monumental, com os edifícios governamentais ao fundo

O desenho original do "Plano Piloto": Asa Norte do lado esquerdo e Asa Sul do lado direito

segunda-feira, novembro 07, 2005

Bush?

O rapaz nem atrapalhou muito. Apenas dois edifícios impossibilitados de visita, o Congresso Nacional e o Palácio do Planalto. De resto, não fossem estes dois factos e a visita do Bush a Brasília teria passado despercebida. Nem manifestações (a cidade tem avenidas largas, pelo que uma concentração razoável de pessoas parece sempre ter uma escala mais reduzida), nem presença policial demasiado forte.

Até eu ter visto isto.


P.S. Brasília requer uma análise muito cuidada. Para breve.

quinta-feira, novembro 03, 2005

Bush


Ele vai cruzar-se no meu caminho. Vai ser já neste fim-de-semana, em Brasília. É o que dá marcar viagens sem estar atento às notícias. Estou então sujeito a várias coisas extremamente interessantes:
- ser integrado numa manifestação de altermundialistas;
- ser confundido com um terrorista;
- o mais grave: não poder circular na cidade e encontrar a maior parte dos edifícios encerrados.

O rescaldo lá para segunda ou terça-feira...

terça-feira, novembro 01, 2005

Update - já não restam muitos fins-de-semana para viajar, a data da partida aproxima-se. É tempo de marcar as últimas viagens, os últimos copos. A agenda está carregada: Brasília, Mato Grosso do Sul e Eldorado (SP) terão honrosas referências nesta página.

Entretanto, um pequeno detalhe: porquê que o feriado do dia 1 de Novembro é...na quarta-feira aqui no Brasil??