< Crónicas de Sampa: maio 2005

terça-feira, maio 24, 2005

Onze anos...

Domingo, foi um dia que eu esperava há muito tempo.

O meu querido Benfica voltou finalmente a subir até à mais alta marcha do pódio, conquistando um título suado e bem merecido. Com toda a sinceridade, esperava que demorasse muito mais a chegar. No entanto, ele chegou e eu...não estava lá. Desde que soube que ia para São Paulo que tive a sensação de que o Benfica iria ser campeão e eu não iria estar presente para festejar. Parece um castigo, não sei que mal fiz...a verdade é que aquando da vitória no último campeonato, eu ainda vivia...na Suíça. Sim, meus amigos, faz bastante tempo mesmo...

O jogo foi difícil. Não me lembro de ter sofrido tanto durante 90 minutos de jogo, especialmente na recta final do desafio do Bessa. Quando acabou, senti a profecia a realizar-se. Benfica campeão, e eu não estava em Portugal mais uma vez. Longe, longe, longe. Ao ver as imagens da festa, os telefonemas dos companheiros de luta destes anos todos...doeu muito não estar em Portugal neste fim-de-semana. O lado bom foi não ter sofrido tanto: não havia à minha volta um ambiente em que toda a gente falasse o assunto durante semanas a fio. Aqui no Brasil fala-se do Palmeiras e do Corinthians...

Após o apito final, as ruas estavam calmas. Ninguém sabia o que se tinha passado. O pessoal do Contacto, que tirando eu veste todas as cores desde que não seja o encarnado, achou que eu tinha direito a festa. Onde encontrar um local com animação, e com portugueses a festejar o título do SLB? Afinal ainda há muitos emigrantes em São Paulo. Bom, o destino foi a casa de Portugal, onde estava a decorrer...uma festa de terceira idade. Um ambiente propício para beber uns chopps...

O auge: encontrar outro benfiquista em São Paulo, já num bar com muito movimento na zona sul da cidade. Já tinham passado duas horas após o apito final, e o sujeito deambulava pela selva de pedra, sózinho, com uma garrafa de vodka numa mão e outra de champanhe na outra. E foi festa de arromba, que durou muito.

Brasileiros curiosos perguntavam: o que se passa? Benfica campeão. Alguns brindaram e até falaram que havia jogadores do seu time que tinham sido transferidos para o Benfica. Um deles era santista...

Pronto, já está. Não custou nada. E para uns e outros, o melhor é ficar (ou nunca ficar) fora de Portugal...

quarta-feira, maio 18, 2005

Avenida Paulista

Uma semana desde o último post...sim, confesso que é difícil manter uma boa regularidade de escrita. No entanto, só custa decidir abrir a página do blogger. A partir daí, com tempo e cabeça fresca, é fácil escrever qualquer coisa.

Hoje, no seguimento das descrições dos lugares emblemáticos de São Paulo, vou falar da Avenida Paulista. Uma Avenida espectacular, que parece deslocada na sua latitude. Prédios altos com arquitectura arrojada, é o grande centro financeiro da América do Sul. O movimento diurno e nocturno é constante, o comércio, as lanchonetes e o metrô estão sempre apinhados, para não falar dos carros que entopem constantemente a mais bela avenida do Brasil.

Mas não é só isso: o Museu de Arte de São Paulo (MASP) e o jardim Trianon oferecem um pouco de contraste. O primeiro tem uma arquitectura bizarra, estando seguro por dois pilares que contornam o edifício, como se estivessem colados. Para além disso, a placa principal está suspensa uns seis metros acima do chão, e como não há pilares há a sensação de que a mesma pode caír em cima de uma pessoa a qualquer momento. O museu também é muito interessante e possui imensas obras de arte de autores como Van Gogh, Rembrandt ou Picasso. O segundo é uma mancha verde bastante densa, que parece pequena tendo em conta a dimensão relativa da cidade.

No fundo, é dos lugares do Brasil onde não se sente estar num país tropical. É outro mundo, e há mais lugares onde se pode sentir isso em São Paulo.


O MASP - Museu de Arte de São Paulo Posted by Hello


A estranha sensação de estar debaixo do MASP Posted by Hello

quarta-feira, maio 11, 2005

Corinthians x São Paulo

Um clássico entre duas equipas de São Paulo é uma experiência única, que no entanto sempre me foi desaconselhada. De todas as combinações possíveis (as equipas são Corinthians, Palmeiras, São Paulo e Santos), aquela que foi considerada a pior de todas é a que envolve as duas primeiras equipas, pois estas são as que têm mais adeptos.

E porque razão? A violência que há nestes jogos. O perigo não se encontra no estádio, mas sim antes e depois do jogo. O futebol é apenas mais um motivo para lançar confusão num país com problemas sociais astronómicos. Então, ser torcedor do adversário passa a ser considerado como um crime pelos adeptos mais violentos. Era o que me diziam, mas eu queria ver para crer.

Não esperava ver um jogo destes tão cedo, mas a vinda de outros contactos a São Paulo deu origem à aventura. Tratava-se de um excelente programa de domingo à tarde, para relaxar do fim-de-semana que se adivinhava bombástico. Compraram-se os bilhetes para uma bancada central, com adeptos do Corinthians mas mais tranquila (pelo menos durante os 90 minutos de jogo), e a entrada no estádio não foi problemática. Até achei tranquila de mais, comparando com os outros jogos a que eu já assisti.

Começa o jogo, e três golos do São Paulo em 16 minutos interromperam o bonito colorido que a Quadra dos Gaviões da Fiel emprestava às bancadas. A equipa jogava mal e a torcida permaneceu relativamente calma até ao intervalo. No entanto, a fama da claque deixava-me nervoso: não sabia bem o que podia saír dali, mas pressentia que podiam aparecer problemas.

No segundo tempo, o descalabro continuou com mais dois golos do rival. Foi a gota de água...sucessivas tentativas de invasão do relvado (cinco conseguiram mesmo fazê-lo) e confrontos violentos com a polícia militar. Para juntar ao pacote, cânticos da torcida incitando à violência no final do jogo. Já tinha visto tudo o que havia a ver, era altura de não perder mais tempo para saír das imediações do estádio. O meu jogo tinha acabado.

Acabou por ser até mais tranquilo do que poderia ser. Logo à saída estavam táxis parados que levaram o grupo para longe da confusão. Deu para sentir um pouco de medo, mas a experiência não deixou de ser interessante, nem que seja para testemunhar os factos.

Foi pena não ter levado máquina (segurança assim obriga) para documentar esta história. Ficam aqui umas publicadas num jornal-online. Não se assustem, esta é a realidade deste país. Não há que escondê-la.


Pancadaria no Pacaembu Posted by Hello


A quadra dos gaviões bate em retirada Posted by Hello


Mais confusão... Posted by Hello

sexta-feira, maio 06, 2005

Ibirapuera

Após uma série de posts que se concentraram sobretudo sobre as viagens fora de São Paulo, é tempo de falar sobre a cidade onde moro e trabalho, que também tem muitos motivos de interesse. Para dar início a esta sequência, vou falar do Parque do Ibirapuera, que é dos maiores que se encontram no coração da cidade.

Olhando para o mapa, parecia pequeno, no entanto a sua dimensão absoluta é espantosa. Uma hora não chega para dar a volta a pé, alugando uma bicicleta talvez seja possível. E eu que esperava um parque vazio e perigoso encontrei-o cheio de vida, com centenas de pessoas a correr, andar de bicicleta, namorando ou simplesmente a passear. É um oásis no meio do deserto.

É certo que podia estar mais arranjado, sobretudo a relva. As lagoas podiam estar despoluídas, mas não deixa de ser um lugar óptimo. Como comparar a dimensão? Esqueçam o Hyde Park. Este é muito maior. E depois de olhar o mapa com atenção, verifiquei que há um parque ainda maior, o parque do Estado. Fica mais próximo da periferia, rotulada de mais perigosa. Por essa razão, manterei a opinião de que não é muito seguro ir lá. Até experimentar!


Ibirapuera Posted by Hello

quinta-feira, maio 05, 2005


Sem comentários. Posted by Hello

domingo, maio 01, 2005

Reflexão

Finalmente um tempinho para parar, para descansar um pouco.

Primeira observação, já estou há mês e meio no Brasil, e parece muito e pouco ao mesmo tempo. Muito, porque num espaço muito reduzido de tempo já conheci várias cidades e muitos lugares de São Paulo; pouco, porque o ritmo de vida é tão grande que parece que ainda foi ontem que saí de Portugal. Continuo a dizer, quando falo sobre o meu estágio, que vou ficar cá 9 meses, quando na realidade só já faltam 7...

É um indicador de que as coisas têm corrido bem. Fundamental para isso acontecer é o estágio estar a ser interessante. Já tenho finalmente tudo para entrar em velocidade cruzeiro em São Paulo: casa, empregada doméstica, e acima de tudo organização. O que foi mais complicado foi gerir o tempo de trabalho e tempo de lazer: o sono incomodou muito as primeiras semanas de estágio, mas também neste ponto já consegui uma maior estabilidade, e consigo saír umas duas ou três vezes durante a semana (a partir de quarta-feira) e estar a 100% no trabalho.

Expectativas em relação àquilo que esperava? Claramente superadas. A imagem que é passada do Brasil na Europa é muito diferente da realidade. São Paulo, pelo menos, tem coisas óptimas: a economia a funcionar 24 horas por dia, 7 dias por semana, 365 dias por ano. Nunca se pára. Para trabalhar, a cidade oferece condições muito boas e proporciona lazer para as horas vagas. Para restaurantes, atrevo-me a dizer que é a melhor cidade do mundo. Há uma enorme variedade de escolhas, quer no sabor quer no preço. E qualidade não falta...o cliente de São Paulo é muito exigente, está disposto a pagar por isso. O problema é sempre escolher um local novo (desde que cheguei só repeti dois restaurantes, por sinal muito bons). Hipermercados, abertos 24 horas por dia. A melhor hora para ir às compras é no final da balada, quando estão mais vazios. Outra coisa, a segurança: nas primeiras semanas andava ainda com um pouco de medo mas este receio foi desaparecendo. Como é óbvio há alguns cuidados a tomar mas São Paulo não é uma cidade que tem tiroteio a cada 5 minutos (ou se calhar até tem e eu não sei!).

Saudades de Portugal, poucas. Das pessoas, sim. Sinto-me um privilegiado por poder participar nesta experiência. A vida é sempre mais monótona nos sítios que nós conhecemos. Num país como o Brasil, há imensas lugares para explorar, e é isso que faz de uma vivência no estangeiro diferente e apaixonante.