< Crónicas de Sampa: janeiro 2006

segunda-feira, janeiro 02, 2006

Conclusões

Duas semanas após o regresso, tempo de fazer o último balanço da aventura.

Como já referi num dos posts que se seguiram à minha chegada, Lisboa está diferente para mim. Resumindo em duas palavras, mais pequena. Viver 9 meses numa das maiores cidades do mundo é uma causa mais do que natural para este desfecho. E o que fica desta vivência? A alegria do povo, a alegria de viver. Outra coisa que aprendi foi a viver a vida de forma intensa, aproveitando todo o tempo livre disponível. E mesmo só com fins-de-semana (apenas uns 4 prolongados) é possível viajar imenso e conhecer imensos lugares, mesmo sem necessitar de gastar muito dinheiro.

São Paulo: uma cidade que mudou a minha visão do mundo. Digo-o a muita gente: tem o melhor do primeiro mundo e o pior do terceiro mundo. Quem tem dinheiro pode ter uma vida fantástica na cidade, mas não se livra da ameaça da violência urbana, fomentada pelas crescentes desigualdades entre as classes sociais. Creio que todos ficariam a ganhar se o sistema brasileiro fosse mais justo, mas a mentalidade da classe dominante está longe de estar neste sentido, antes pelo contrário. E ao lado destes que têm uma vida fantástica (grandes carros, grandes casas, helicópteros), há os miseráveis, os que nada têm. Eu não seria capaz de viver para sempre no Brasil porque teria de aceitar o sistema, tal como é. E não posso aceitá-lo, revolta-me.

E o que mais chateia é que vejo no Brasil um potencial enorme. Quando o país acordar, quando a classe política entender que o actual panorama social é um dos entraves ao lançamento definitivo do país na cena económica mundial, o Brasil poderá tornar-se num dos melhores países do mundo para se viver. Clima bom, natureza belíssima, povo afável. O seu potencial agrícola será uma das rampas do lançamento do crescimento. Quando as barreiras proteccionistas impostas pelos Estados Unidos e pela União Europeia caírem, os nossos mercados serão inundados de produtos importados do Brasil, de melhor qualidade e mais baratos. Não haverá concorrência à altura. E acreditem que não há-de faltar muito para que isto se torne realidade. O Brasil assume cada vez mais importâncias nas negociações da OMC.

Resta saber como toda esta riqueza vai ser distribuída.