< Crónicas de Sampa

segunda-feira, maio 22, 2006

As Crónicas de Sampa - pertencem ao passado. Marcaram um tempo da minha vida, mas agora é tempo de novos projectos. Quero continuar a escrever, mas não faz muito sentido que seja nesta página, dedicada quase exclusivamente aos 9 meses passados no Brasil. De qualquer forma, fica aqui o convite para continuar a acompanhar as minhas aventuras e histórias. O endereço é: http://irreflectido.blogspot.com
Até sempre!

Sampa - a última homenagem

Alguma coisa acontece no meu coração
Que só quando cruza a Ipiranga e a Avenida São João
É que quando cheguei por aqui, eu nada entendi
Da dura poesia concreta de tuas esquinas
Da deselegância discreta de tuas meninas

Ainda não havia para mim Rita Lee
A tua mais completa tradução
Alguma coisa acontece no meu coração
Que só quando cruza a Ipiranga e a Avenida São João

Quando eu te encarei frente a frente não vi o meu rosto
Chamei de mau gosto o que vi, de mau gosto mau gosto
É que Narciso acha feio o que não é espelho
E à mente apavora o que ainda não é mesmo velho
Nada do que não era antes quando não somos mutantes

E foste um difícil começo, afasto o que não conheço
E quem vem de outro sonho feliz de cidade
Aprende depressa a chamar-te de realidade
Porque és o avesso do avesso do avesso do avesso

Do povo oprimido nas filas, nas vilas, favelas
Da força da grana que ergue e destrói coisas belas
Da feia fumaça que sobe apagando as estrelas
Eu vejo surgir teus poetas de campos e espaços
Tuas oficinas de florestas teus Deuses da chuva

Pan-Américas de Áfricas utópicas, túmulo do Samba
Mas possível novo quilombo de zumbi
E os novos baianos passeiam na tua garoa
E novos baianos te podem curtir numa boa

Sampa, in Personalidade, Caetano Veloso

segunda-feira, janeiro 02, 2006

Conclusões

Duas semanas após o regresso, tempo de fazer o último balanço da aventura.

Como já referi num dos posts que se seguiram à minha chegada, Lisboa está diferente para mim. Resumindo em duas palavras, mais pequena. Viver 9 meses numa das maiores cidades do mundo é uma causa mais do que natural para este desfecho. E o que fica desta vivência? A alegria do povo, a alegria de viver. Outra coisa que aprendi foi a viver a vida de forma intensa, aproveitando todo o tempo livre disponível. E mesmo só com fins-de-semana (apenas uns 4 prolongados) é possível viajar imenso e conhecer imensos lugares, mesmo sem necessitar de gastar muito dinheiro.

São Paulo: uma cidade que mudou a minha visão do mundo. Digo-o a muita gente: tem o melhor do primeiro mundo e o pior do terceiro mundo. Quem tem dinheiro pode ter uma vida fantástica na cidade, mas não se livra da ameaça da violência urbana, fomentada pelas crescentes desigualdades entre as classes sociais. Creio que todos ficariam a ganhar se o sistema brasileiro fosse mais justo, mas a mentalidade da classe dominante está longe de estar neste sentido, antes pelo contrário. E ao lado destes que têm uma vida fantástica (grandes carros, grandes casas, helicópteros), há os miseráveis, os que nada têm. Eu não seria capaz de viver para sempre no Brasil porque teria de aceitar o sistema, tal como é. E não posso aceitá-lo, revolta-me.

E o que mais chateia é que vejo no Brasil um potencial enorme. Quando o país acordar, quando a classe política entender que o actual panorama social é um dos entraves ao lançamento definitivo do país na cena económica mundial, o Brasil poderá tornar-se num dos melhores países do mundo para se viver. Clima bom, natureza belíssima, povo afável. O seu potencial agrícola será uma das rampas do lançamento do crescimento. Quando as barreiras proteccionistas impostas pelos Estados Unidos e pela União Europeia caírem, os nossos mercados serão inundados de produtos importados do Brasil, de melhor qualidade e mais baratos. Não haverá concorrência à altura. E acreditem que não há-de faltar muito para que isto se torne realidade. O Brasil assume cada vez mais importâncias nas negociações da OMC.

Resta saber como toda esta riqueza vai ser distribuída.

sexta-feira, dezembro 30, 2005

Cadê - o meu 13ª salário?

quinta-feira, dezembro 22, 2005

Tudo é relativo - Quando regressei da Dinamarca, após ter concluído o meu programa Erasmus, achei Lisboa poluída, desorganizada, confusa, e com um clima muito quente. Agora que regresso de São Paulo, Lisboa encontra-se do lado oposto: extremamente organizada, simpática, com ar muito puro.

E muito fria.

sexta-feira, dezembro 16, 2005

ODS - "Os de Sempre"

Uma homenagem sentida a todos os que me acompanharam na Logoplaste nos últimos 9 meses. Valeu galera!!



Polícia Federal (outra vez...) - Funcionário chama: Paulo Jorge Fonseca da Silva. Funcionário tem na sua posse o meu passaporte, supostamente português. Funcionário pergunta:

Você fala português?

quinta-feira, dezembro 15, 2005

São Paulo

Sim, 9 meses depois um post sobre a cidade. Sobre coisas que eu nunca vi, nem nunca fiz. Outra para a despedida, no meio lá consegui resolver os meus problemas com a Polícia Federal.

O que eu nunca fiz: apanhar um ónibus para o centro da cidade. Por 2 reais, chega-se lá sem qualquer sobressalto e tal representa uma poupança de cerca de 30 euros em relação à alternativa do táxi. Ou seja, dá perfeitamente para almoçar num botequim típico do centro, onde claramente existe uma maior mistura de pessoas: ricos e pobres, bem e mal vestidas, brancos e negros. O chopp do bar Leo está claramente no top 5 de todos os que tomei em terras brasileiras, e os seus petiscos e canapés trouxeram-me à memória as deliciosas tapas de nuestros hermanos.


Torre Banespa, mesmo no centro. Nunca dá para entrar, impressionante. Ou o elevador está com problemas de funcionamento (desculpa mais habitual), ou é domingo, ou o horário já passou das 17h. Ou seja, vou embora sem ver uma das vistas mais impressionantes de toda esta metrópole. Em compensação, visitei pela primeira vez o Pátio do Colégio e a Sé, sendo que o primeiro é o lugar onde foi fundada a cidade de São Paulo, em 1554.



Sempre me disseram que a esquina mais famosa da cidade é a da Avenida São João com a Avenida Ipiranga, onde fica localizado o Bar Brahma. Ainda não conhecia, e aproveitei para o fazer. Infelizmente o bar estava vazio, pelo que não pude sentir a verdadeira emoção do lugar, que não deixa de ser muito bonito, tais como muitos outros em São Paulo. Ainda havia outras coisas para visitar, como a estação da Luz ou o mercadão, mas era tempo de resolver os assuntos burocráticos.



Depois de resolvidos, uma última visita ao espaço mais agradável da cidade: o Parque do Ibirapuera. Pelo meio uma pequena paragem na Avenida Paulista, que delimita dois mundos bem diferentes. E é tudo.



Até Lisboa.

A denominação - de Papai Noel para aquela figura de vermelho que enternece a época festiva dos mais pequenos é algo que me deixa profundamente intrigado.

segunda-feira, dezembro 12, 2005

Carna Itu

Fim-de-semana da despedida. Para assinalar a data, a ideia foi de reunir o pessoal Contacto de São Paulo mais Itu e “curtir” uma experiência muito brasileira, um “Carnaval fora de época”.

Trata-se de um evento que tenta recriar todo o ambiente do Carnaval fora do seu período. Existem dezenas de eventos deste género no Brasil em cada ano. As características são: muita folia, diversão, música e pegação.

De facto a realidade não é muito diferente do que foi descrito acima. No entanto, é muito mais exagerado do que imaginava. É interessante estar presente numa festa como esta para observar o comportamento mais primitivo do ser humano. Em primeiro lugar, toda a gente entra em avançado estado de alcoolémia dentro do recinto; em segundo lugar, toda a gente segue o trio elétrico, tal como as beatas seguem uma prossição; e o objectivo é beijar o maior número de pessoas possíveis (estou a falar no geral, como é óbvio nem toda a gente vai para isso). Um dos episódios mais interessantes é visitar os dois postos médicos instalados no recinto, ou pura e simplesmente caminhar dentro do mesmo e observar jovens completamente fora de si, deitados no chão a ressacar.

Uma seita é capaz de ser a maior comparação que se pode fazer com uma micareta. Para além de toda as pessoas estarem extasiadas, e seguirem religiosamente um camião de música, o uniforme (abadá) é igual para todos. Existe apenas uma diferenciação na cor para quem tem acesso ao camarote.

É para rir, para observar, tomar notas e não voltar (pelo menos para mim). E para os mais curiosos, aviso que o Carnaval de Salvador é isto multiplicado por dez (segundo dizem os entendidos no assunto).