< Crónicas de Sampa: setembro 2005

sexta-feira, setembro 30, 2005

Minas Gerais - Dia 1

Esta viagem estava prometida há muito tempo. Era uma daquelas que teria de fazer antes de ir embora. Só com a chegada do grande amigo Daniel é que a possibilidade se concretizou. Tempo e carro foram ingredientes que se revelaram essenciais no percurso: é que no Brasil 500 km de estradas não são equivalentes a 5 horas de tempo. Para dar um pequeno exemplo, os últimos 100 km levaram cerca de duas hora e meia a percorrer, sendo que a estrada se poderia assemelhar quer a Marte quer a um campo de minas, de tantas crateras que ela possuía.

As cidades históricas de Minas Gerais têm um valor histórico e cultural muito grande quer para Portugal quer para o Brasil. Elas surgiram com a descoberta do ouro no século XVIII, e a sua evolução está intimamente relacionada com a abundância do metal precioso na região. Durante o período de maior generosidade, os artistas mais famosos do Brasil trataram de erigir igrejas e decorações belíssimas: quando o ouro começou a escassear, o chamamento esmoreceu e toda a região começou a entrar em decadência, pois não havia ali outro ramo de actividade económica que pudesse sustentar as populações locais. Hoje em dia, a economia local sobrevive graças à extracção mineira e também ao turismo.

O primeiro dia de visita serviu para conhecer São João Del-Rei, Tiradentes e ainda chegar a Ouro Preto, antiga capital do Estado de Minas Gerais. É difícil dizer o que é que foi mais interessante: se o museu do Presidente Tancredo Neves, que foi o primeiro presidente eleito directamente pelo povo depois da ditadura militar, se a Igreja Matriz de Santo Antônio em Tiradentes ou ainda a aventura que foi chegar a Ouro Preto, em estradas alternando entre boas e muito más e sob uma chuva intensa que provocou vários alagamentos ao longo do caminho.

Este foi o aperitivo. No dia seguinte, três cidades para visitar: Ouro Preto, Mariana e Congonhas.


São João del-Rei ou uma versão miniatura do Bom Jesus de Braga Posted by Picasa


Nas ruas de Tiradentes Posted by Picasa


Aquilo que o Chevrolet Celta sofreu... Posted by Picasa


Atenção que isto não uma saída: é um rio furioso que ameaça passar por cima da estrada... Posted by Picasa


Chegada a Ouro Preto à noite, junto à Praça Tiradentes Posted by Picasa

quarta-feira, setembro 28, 2005

Tout dans la vie - a son début, son déroulement et sa fin.

quarta-feira, setembro 21, 2005

Finalmente - chegou a Primavera. Mesmo assim, o sol continua muito tímido.

E ainda dizem que estou num país tropical.

terça-feira, setembro 20, 2005

Moby

Sexta-feira foi dia de concerto de Moby em São Paulo. A minha presença no concerto não se deveu a uma grande admiração pelo artista ou pela sua obra, mas sim porque acabou por haver um bilhete que sobrou e eu ocupei o lugar.

O concerto iria ser realizado no Hotel Unique, um dos lugares mais chiques de São Paulo. O bar que este possui na cobertura do edifício é muito agradável e dos meus preferidos para conversar na noite paulistana. No entanto, o local do concerto ficava nos pisos subterrâneos, com óptimas condições de som mas com uma lotação mais reduzida.

Os preços eram proibitivos. 300 reais um bilhete inteiro (equivalente a cerca de 100 euros, o valor do salário mínimo no Brasil), 150 para estudante. E realmente o concerto, apesar de me ter surpreendido pela positiva, não vale esse dinheiro. Mas vale para as pessoas que lá foram, a sois-disant élite da sociedade paulistana, sim. Até vai haver outro concerto de Moby na próxima terça-feira, mas este concerto era especial, era privé. As pessoas não foram lá para ver Moby: foram para lá para poderem dizer que foram ver Moby ao Unique. E claro, para mostrarem à restante aristocracia que estavam presentes.

Não gostam deste género de ambientes. Não me sinto à vontade neles. No entanto, é uma das facetas integrantes da sociedade brasileira, a dita cuja. O fosso é de facto abismal.

domingo, setembro 18, 2005

Sem ter sequer pensado no assunto - andei de avião no dia 11 de Setembro. E por incrível que pareça, apenas me dei conta do facto ontem. Passados 4 anos, vamos esquecendo os horrores daquela data e a vida continua a ser vivida normalmente, quase como se nada tivesse acontecido.

A memória humana encarrega-se de esquecer.

sábado, setembro 17, 2005

Ainda o Parque Nacional do Iguaçú#1 - é bom saber que elas existem.



Ainda o Parque Nacional do Iguaçú#2 - proibido nadar no rio?? Porque será??


quarta-feira, setembro 14, 2005

Dia 3 - Barragem de Itaipu, Paraguai e Parque das Aves

O terceiro dia do passeio ao triângulo de Foz do Iguaçú começou com uma visita à usina hidroeléctrica de Itaipu. A barragem foi construída no curso do rio Paraná, a cerca de 10 quilómetros da cidade, e é administrada conjuntamente pelo Brasil e pelo Paraguai. O nome tem origem numa ilha que existia antes da construção da barragem: em tupi-guarani, Itaipu significa "pedra que canta", em alusão ao som que a água produzia ao colidir com a ilha.

Não tinha a noção, mas trata-se da maior fábrica de energia hidroeléctrica do mundo quer em energia produzida quer em capacidade instalada. Fornece 25% de toda a energia consumida no Brasil e 90% de toda a energia do Paraguai. O acordo de princípio entre os dois previa a partilha equitativa de toda a produção: no entanto, o Paraguai vende grande parte daquilo a que tem direito ao Brasil, que tem necessidades de energia mais elevadas. A albufeira formada pela barragem não é muito grande: mesmo assim, permitiu a criação de instalações turísticas nas margens do lago, e que atraem imensos turistas no Verão. Para além disso, existe um canal exterior que permite a ligação entre o rio e o lago, que permite aos peixes deslocarem-se entre eles.

A seguir, Paraguai. O primeiro lugar onde me senti verdadeiramente na América Latina. Para começar, trânsito caótico para atravessar a Ponte da Amizade, que une os dois países. Há imensas motas e carrinhas que tratam de introduzir mercadoria contrabandeada em território brasileiro. Além deste factor, as feições dos habitantes de Ciudad del Este são predominantemente indígenas, sendo visível a olho nú alguma repressão policial. É muito comum encontrar consumidores brasileiros a fazerem compras deste lado da fronteira, pelo que a maior parte das pessoas que aí trabalham falam um português (do Brasil) correctíssimo. Eu não escapei a esta onda de preços baratos, e posso dizer orgulhosamente que tenho uns Pumas hechos en Paraguay.

A seguir, ainda houve tempo para visitar o Parque das Aves, que reúne variadas espécies de papagaios, tucanos, araras e outros pássaros. Um dos objectivos do parque é reabilitar aves que foram capturadas por caçadores para serem negociadas no mercado negro, nos países do primeiro mundo. O passeio é extremamente agradável e foi feito antes da mudança de clima: a chuva chegou quando era tempo de partir.


Barragem de Itaipu Posted by Picasa


Falta pouco? Mais meia-hora para lá chegar... Posted by Picasa


Comércio e contrabando, é em Ciudad del Este! Posted by Picasa


A confusão do Paraguai Posted by Picasa


Parque das Aves Posted by Picasa

terça-feira, setembro 13, 2005

Dia 2 - Cataratas, lado argentino

Depois do passeio do lado brasileiro das cataratas, foi tempo de rumar ao país vizinho. Do outro lado do rio Iguaçú ficava a Argentina e a cidade de Puerto Iguazú. Até chegar à entrada das cataratas são cerca de 20 quilómetros, e logo aí somos confrontados com um dos problemas do lado argentino, o câmbio oficioso de real para peso de um para um.

Tirando este facto, a visita às cataratas é ainda mais espectacular do que do lado brasileiro. Para começar, um pouco de aventura, com um passeio de barco a subir o rio até às quedas de água. Para chegar ao rio, um passeio pela selva de caminhão, nada de extraordinário tendo em conta o passeio da semana passada em Ilhabela. Os primeiros quilómetros do rio são calminhos mas à medida que nos aproximamos do local a corrente fica cada vez mais tumultuosa, também graças ao nível elevado do rio. Devido a este facto, não foi possível acostar na Ilha de San Martin, mas deu para chegar suficientemente perto das cataratas e tomar um duche. A parte mais emocionante foi o regresso à base de partida: uma sucessão de rápidos que me deixou completamente encharcado, e o saco maravilha que foi facultado a todos os passageiros conseguiu proteger a minha querida máquina digital da fúria das águas.

Depois da emocionante aventura, tempo de fazer os outros passeios propostos no parque: Garganta del Diablo, Circuito inferior e circuito superior. O primeiro tem um nome adequado à sua forma: milhares de metros cúbicos precipitam-se dentro de um buraco, originando um espectáculo grandioso, e fazendo sentir o comum dos mortais muito pequeno perante a natureza. É possível chegar junto à garganta através de sucessivas passadeiras: neste local o rio chega a ter uma largura superior a dois quilómetros. Os restantes passeios são também muito bonitos, mas mais parecidos com os que foram feitos no Brasil. A grande diferença é estar realmente mais perto dos saltos.

Ao final da tarde, o regresso. Depois de atravessar a fronteira, tempo de ir ao local exacto onde se cruzam as 3 fronteiras (junção do Iguaçú com o Paraná), e onde cada um dos países construiu um marco para simbolizar a amizade e fraternidade que liga (?) os vários povos. As cataratas estão feitas, e vão deixar saudades. Agora falta Itaipu, a maior fábrica hidroeléctrica do mundo e o Paraguai, dos quais falarei amanhã.


A primeira fronteira: Ponte Tancredo Neves, à direita do rio Iguaçú o Brasil, à esquerda a Argentina. Posted by Picasa


Pronto para a guerra!! Posted by Picasa


As cataratas, vistas do barco Posted by Picasa


Com os pais na Garganta del Diablo Posted by Picasa


A imponência de um dos saltos Posted by Picasa


Marco das 3 fronteiras: eu estou em território brasileiro, do lado direito fica o Paraguai e em frente, à esquerda do rio Paraná, a Argentina. Posted by Picasa

segunda-feira, setembro 12, 2005

Dia 1 - Foz do Iguaçú

A aventura começa de uma forma mais tranquila do que o habitual. Em vez de partir logo a seguir ao dia de trabalho, a opção foi deixar São Paulo no dia seguinte, depois de uma noite bem dormida (também são necessárias). E como eram quase 5 dias pela frente, não valia a pena esticar o tempo ao máximo.

Destino: Foz do Iguaçú, extremo oeste do Estado do Paraná, no sul do Brasil. O objectivo principal era a visita às Cataratas do rio com o mesmo nome (que na linguagem tupi-guarani significa "água grande"). Para além disso, a região é extremamente interessante do ponto de vista da geografia política: nessa localidade encontram-se as fronteiras de três países da América Latina: Brasil, Argentina e Paraguai (na junção dos rios Iguaçú e Paraná).

Depois da chegada ao hotel, as primeiras movimentações para efecturar todas as visitas. Ao contrário do que eu estava à espera, a visita do lado brasileiro das Cataratas não era coisa para demorar muito tempo, e ainda havia tempo suficiente para dar um primeiro salto até esta maravilha da natureza. Muita expectativa como é óbvio, mas não há palavras para descrever a emoção que se sente ao vê-las: 2700 metros de quedas de água (a maior parte do lado argentino), uma imensa nuvem de vapor resultante das mesmas, e um barulho ensurdecedor. É possível realizar uma trilha pelas encostas do rio, onde se pode passar muito perto da queda de água (um resultado inevitável é ficar completamente encharcado). Além disso, o Parque Nacional do Iguaçú onde se encontram as Cataratas contém imensas espécies protegidas, e também quatis, animal com uma cauda comprida e aparentemente familiar e que pode ser encontrado com muita facilidade dentro do parque. A diversidade da fauna e flora deriva do clima sub-tropical do local, provocado por muito calor e vapor de água.

Este era apenas o primeiro aperitivo. O lado argentino, com maior reputação, esperava por nós no dia seguinte.


Vista das cataratas do lado argentino (a partir do Brasil) Posted by Picasa


É quase impossível estar naquele local por mais de 30 segundos... Posted by Picasa


Os quatis Posted by Picasa

quarta-feira, setembro 07, 2005

Incredulidades#2 - Atendimento num posto de abastecimento.

terça-feira, setembro 06, 2005

Incredulidades#1 - Passagem de nível numa auto-estrada.

segunda-feira, setembro 05, 2005

Ilhabela

Depois de uma noite mal dormida, nada melhor do que um passeio para acordar. A aventura começou no sábado, e o destino foi Ilhabela, que fica a cerca de 200 quilómetros de São Paulo. Trata-se como o próprio nome indica de uma ilha, sendo que 85% do seu território é coberto por uma densa vegetação de mata atlântica, muito comum no sudeste do Brasil. Este facto origina uma das maiores desvantagens de uma visita à ilha: a existência de muitos mosquitos, especialmente pernilongos e borrachudos. Nem pensem em não levar repelente de insectos: é uma autêntica carnificina.

Como a chegada à ilha foi relativamente tardia (sábado às 14h) e ainda foi necessário andar à procura de alojamento para passar a noite, o fim-de-semana rendeu essencialmente pelo domingo. Uma trilha de jipe para atravessar a ilha de leste para oeste (a ilha é muito montanhosa e qualquer lugar é de difícil acesso) para chegar à praia dos Castelhanos, onde vive uma comunidade completamente isolada do mundo exterior. Até foi extremamente curioso que demos carona (boleia) a uma pessoa que vivia nesta mesma comunidade, sendo que o tempo normal que o sujeito levaria a percorrer toda a distância seria de 4 horas. Como a estrada era sinuosa, o jipe apenas conseguiu demorar metade do tempo!

Para dizer a verdade, nunca mais se chegava ao destino. Pedras, árvores, troncos, outros obstáculos, rios, tudo servia para dificultar o caminho. No entanto, a recompensa à chegada foi maravilhosa: para além do aparecimento do sol, uma paisagem típica de postal, daquelas que me faz lembrar que sim, estou no Brasil. Infelizmente as minhas previsões saíram furadas e fiquei a admirar a restante comitiva em belos banhos de praia, enquanto me enchia de repelente para suavizar o ataque feroz da bicharada.


Depois, outra paragem, desta vez envolvendo uma trilha a pé. 40 minutos a subir a encosta pelo meio da serra (em que o guia se divertia a dizer que poderíamos encontrar cobras) até chegar ao momento em que a verdura desaparece e dá lugar a uma mágnifica queda de água com 80 metros de altura. Meia-hora para o espanto, tirar fotografias e guardar aquelas paisagens na memória. Sim, porque tenho a consciência que dificilmente as voltarei a ver. E depois o regresso, primeiro duas horas de jipe, com um furo pelo caminho, e depois barco (para chegar ao continente) e carro até São Paulo.



As picadas dos borrachudos continuam a incomodar um pouco, mas a visita valeu bem a pena. Agora está prestes a chegar a primeira visita, dos meus queridos pais. Foz do Iguaçú espera por nós em breve!

sexta-feira, setembro 02, 2005

É habitual - falar-se muito do PCP no Brasil. Como é óbvio, a sigla não representa o mesmo significado que em Portugal. No entanto, nunca consigo deixar de pensar que as pessoas do departamento de Planejamento e Controlo da Produção são comunistas.