< Crónicas de Sampa: junho 2005

quinta-feira, junho 23, 2005

Farmácias - a imagem que tenho destes supermercados que vendem medicamentos e algumas drogas é de que o seu core business não vai além destes produtos, exceptuando eventualmente alguns rebuçados Ricola que também podem aí ser encontrados. Em São Paulo, uma farmácia deixa de ser uma farmácia e passa a ser...um supermercado.

Tudo o que é produto de higiene pessoal pode ser comprado lá. Champôs, espumas de barbear, lâminas, desodorizantes, tudo, absolutamente tudo. Postais também.

E na hora de pagar, se você leva um medicamento para a dieta indicado por um nutricionista vai também encontrar batatas fritas Matutano e chocolatinhos.

É só para ver se os visados conseguem resistir à tentação.

sexta-feira, junho 17, 2005

Inutilidades - Se há actos que não fazem o mínimo de sentido serem executados nesta cidade, o pior deles todos é pintar faixas de pedestres.

Podia-se poupar bastante tinta para a construção civil.

terça-feira, junho 14, 2005

Museu do Ipiranga - Um dos grandes problemas da cidade é a ausência de espaços abertos, exceptuando um ou outro que já aqui descrevi, como é o caso do Parque Ibirapuera. Ao fim de uns meses a viver, sinto-me como encurralado entre os carros, as pessoas e os arranha-céus.

E também há oásis. O Parque da Independência, onde se situa o Museu do Ipiranga, é um espaço cheio de vida, vegetação e fontes. Parece algo de banal mas no meio desta selva de pedra, cada cantinho de verdura que é descoberto assemelha-se logo ao paraíso.

E ainda há o museu. Extremamente interessante, retrata a história do Brasil, sobretudo desde a época de Pedro Álvares Cabral até finais do século XIX, quando a sua construção foi terminada. A sua construção foi, aliás, um desejo firmemente expresso logo após a independência, cuja proclamação ocorreu perto do local onde o museu foi efectivamente construído. O seu conteúdo é extremamente interessante: fiquei a saber que muitos nomes de ruas e rodovias são um tributo aos muitos conquistadores portugueses que penetraram pelo continente adentro; também que durante anos se considerou que o Brasil era uma ilha, formada pelo Oceano Atlântico e pelos dois maiores rios da América do Sul, o Rio da Prata e o Amazonas que estariam ligados por vários canais; e reparei ainda através de artigos de imprensa do início do século passado que o português utilizado possuía ainda mais diferenças em relação à língua mãe do que na actualidade.

Para além disso, mapas, de todos os géneros e feitios, da grande América Portuguesa como era chamada na altura. O nome até soa estranho. Ainda maquetas de São Paulo no início do século, que acabava na Avenida Paulista e outra do museu, que acabou por ficar pronta quase ao mesmo tempo do que o verdadeiro. Só que com uma diferença: na versão original faltam duas alas laterais, que não foram construídas por falta de verbas.

Alguma coisa o Brasil teve de copiar de Portugal, nem que fossem só as coisas más.


Fachada do Museu do Ipiranga Posted by Hello


Parque da Independ�ncia Posted by Hello

Festas juninas - Tal como sucede nesta altura do ano em Portugal, o Brasil também comemora neste mês de Junho os santos populares. A origem destas festas é muito anterior ao tempo do catolicismo, e o seu motivo era (é) a ocorrência no hemisfério norte do solistício de Verão. Nestas ocasiões, pedia-se colheitas férteis e chuvas abundantes para o ano vindouro.

Ao longo do tempo, estas festas foram dissimuladas dentro do calendário católico, aproveitando datas festivas que já existiam nos hábitos e costumes dos povos para nelas celebrar os seus mártires. Foi esta a táctica secular da Igreja Católica para permitir a adesão de mais fiéis, pois torna-se menos conflituoso para as populações adaptar uma nova religião cujas festas coincidem no tempo com aquelas que sempre festejaram. Outro exemplo de celebrações de origem pagã para além das festas juninas é o Natal, que assinala o solstício de Inverno.

Depois de adaptadas por toda a Cristandade, mas nomeadamente em Portugal, a colonização portuguesa também encarregou-se de trazer para o novo Continente os seus costumes e tradições. As festas repetiram-se ao longo dos séculos e hoje até já perderam a designação inicial de festas dos santos populares, para ser apelidadas de festas juninas. O Santo António, santo casamenteiro até tem outra curiosidade: deu origem ao dia dos namorados no Brasil, que é celebrado no dia 12 de Junho. Apesar destas diferenças, deparei-me perante muitos dos lugares que ontem se preparavam para assinalar esta data, e concluí que elas ainda têm muito a ver com Portugal: a decoração, a alegria, e a presença das classes populares.

Há muitas ocasiões em que sinto que o Brasil, país colonizado, fez muito para se afastar da metrópole, para ser diferente. Mas também há momentos em que penso que por muito tempo que passe será impossível apagar a nossa presença neste país. Estas festas, enraizadas nos hábitos do povo, ilustram-no bem.

sábado, junho 04, 2005

Novidades - Em primeiro lugar, as maiores desculpas por mais de uma semana de ausência, que se deveu entre outros motivos a mais trabalho e ao facto de ter ficado sem internet no meu apê durante uns 10 dias.

A vida continua a correr bem, hoje aproveito mais um tempinho de descanso, pois a semana foi puxada. Segunda-feira, Skye, o bar com a melhor vista sobre São Paulo; terça, jantar em casa dos meus tios e único dia que me consegui deitar antes da meia-noite; quarta-feira, Copa Libertadores no Morumbi; quinta, festa aqui no meia-três para beber cerveja e matar saudades do Gato Fedorento; e ontem, apesar de não contar para o campeonato, festa à la Erasmus em casa de espanhóis, e que me fez sentir alguma nostalgia dos meus tempos na terra dos vikings.

Como podem ver, hoje é para não fazer nada. Ou talvez sim...até que alguém se mobilize e tenha uma ideia!

É assim a vida na franquia do inferno.