Preconceitos com os portugueses - São Paulo, como todos sabem, é uma cidade enorme. Com 20 milhões de pessoas à volta, torna-se difícil encontrar portugueses, até porque eles conseguem integrar-se bem na sociedade brasileira. No entanto, há um lugar onde é fácil encontrar alguém da pátria de Camões: as padarias.
Eu sei que é difícil acreditar nisto, mas não há nada como entrar, procurar o dono e perguntar. Se não se quiser perguntar, exagera-se um pouco o sotaque lusitano para se fazer notar. Do outro lado do balcão ou caixa surge a inevitável pergunta: você é português? Sim senhor. O patrão pode até nem ser português, mas a probabilidade do seu antecessor ter sido patrício é muito elevada. Geralmente estas pessoas são originárias ou de Trás-os-Montes ou da Madeira, e já residem no Brasil há mais de 50 anos. Deixaram um Portugal que hoje já não existe, fugiram da miséria das aldeias do interior em busca do sonho de uma vida melhor. A maioria foi bem sucedida, conseguiram atingir um nível de vida praticamente impossível para eles em Portugal e conseguiram oferecer educação aos filhos, que mesmo sendo completamente brasileiros ainda assim mantêm alguma contacto com as suas raízes.
E é esta realidade que dá origem à imagem que os brasileiros têm, em regra geral, sobre o português. Veio da terrinha há meio século atrás, sem nada no bolso, chama-se Manuel ou Joaquim, abriu uma padaria, usa lápis atrás da orelha e a mulher tem bigode. É óbvio que há muitas e honrosas excepções a este tratamento, o que não vai impedir que este preconceito perdure no tempo. Aliás, é esse mesmo preconceito que origina imensas piadas sobre os portugueses, assim como em Portugal há sobre os alentejanos ou em França sobre os belgas.
E se ainda não ficaram convencidos, eis a prova, uma música já velhinha dos Mamonas Assassinas, "Roda roda vira", que muitos ainda se devem recordar:
"...Manuel tu na cabeça tem titica larga de p*taria e vai cuidar da padaria".
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