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segunda-feira, julho 04, 2005

Itu

Finalmente, o regresso às viagens.

Junho foi completamente atípico se atender ao que se passou durante os dois primeiros meses do estágio. Em vez de passeios constantes a cada fim-de-semana passei por uma fase em que fiquei em São Paulo muito tempo seguido. Confesso que este imobilismo me estava a deixar nervoso, e a pensar se estaria ou não a aproveitar bem o tempo. É que não é preciso percorrer grandes distâncias ou ir de avião para fazer grandes viagens: o interior de São Paulo tem muito para ver.

O interior costuma ser um destino de eleição nos meses mais frios do ano, quando os paulistas acham que não está calor suficiente para descer a serra do mar e gozar um fim-de-semana de praia. Nesta linha de raciocínio optamos por visitar Itu, cidade que dista 100 km de São Paulo e onde se encontram a trabalhar mais 2 estagiários do C8 e outro C6. A romaria começou relativamente tarde, sábado à luz dos últimos raios de sol. Algum trânsito, para não variar, e muita favela. São uns 15 km em que a miséria se espalha à volta da rodovia Castello Branco. E numa área de serviço com restaurante português encontramos placas a indicar a distância que nos separava de várias cidades lusitanas. Nada como ficar a saber a real distância entre Lisboa e São Paulo: cerca de 8000 km.

Itu é uma cidade pacata, com cerca de 60 mil habitantes. Não fosse a presença de outros estagiários e dificilmente seria motivo de visita. Primeira conclusão assustadora: falta de oferta. Poucos botecos, poucos restaurantes. São Paulo habituou-me a uma diversidade de escolha que me deixa perdido quando encontro apenas meia dúzia de estabelecimentos disponíveis para o propósito desejado. Tenho a certeza que quando regressar a Lisboa vou sentir muito a falta desta comodidade.

Do outro lado da balança, a ausência de poluição do ar, sonora, visual, só mesmo o Rio Tietê consegue estar pior do que em São Paulo (também é natural que assim seja, pois Itu fica a montante da capital paulista). A falta de confusão e barulho até estranha. Favelas não existem, e não se nota uma discrepância tão grande no que concerne a distribuição do rendimento. A conduzir é que eles são todos iguais

Mais: Itu é famosa no Estado por ser uma cidade em que tudo é grande. O mito nasce a partir de uma personagem interpretada por um actor da Globo originário da cidade e que dizia “em Itu tudo é grande…”. Para homenagear esta personagem, Itu tem dois monumentos: um orelhão gigante e um semáforo gigante. É absurdo mas a cidade vende esta imagem e associada a ela uma série de objectos banalíssimos em tamanho grandeque servem de souvenir. Exemplos: notas de banco, baralhos de cartas, lápis, preservativos, réguas, etc.

A noite foi animada. O destino foi uma discoteca in de Indaiatuba, uma cidade vizinha. O grande problema das baladas no Brasil é o (des)controlo de entradas: não se consegue estar lá dentro. Muitas pessoas acabam por desistir saindo, o que torna a discoteca mais agradável (no entanto isto só acontece por volta das 4h30 da manhã. Outro grande problema: o tempo necessário para pagar à saída. Pode demorar cerca de meia hora. Somando todo este tempo e ainda uma ida à padaria para recuperar energias a noite terminou já o sol ditava as leis: 8h30.

Depois, pouco mais a ver. Dormir, almoçar, beber café e regressar a São Paulo. Aí, nada a fazer: 20 km de paragens na rodovia Castello Branco. E para acabar bem a semana nada como encher a geladeira de casa que estava num estado miserável.

E a sensação de ir descansar com a consciência de ter aproveitado bem o fim-de-semana (ou pelo menos mais do que nos anteriores).